Sal da Língua
Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei,
não vai salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco mais.
Palavras que te quero confiar, para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei, que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.
Eugénio de Andrade
Etiquetas: Outras Vozes
3 Comentários:
Também leio e, releio, o nosso grande Eugénio de Andrade.
O Olhar
"Eu sentia os seus olhos beber os meus;
longamente bebiam, bebiam, bebiam
até não me restar nas órbitas nenhuma luz,
nenhuma água,
nem sequer o sinal de neles ter chovido
naquele inverno.
Eugénio de Andrade
Rente ao Dizer
(para a Fátima)
Certamente não emudecerei com palavras tão belas, esse "sal da língua"...
...apenas me demoro mais um pouco a saboreá-las, estas que me são tão caras...
Obrigada!
Kat
Também ele dizia: "São como um cristal, as palavras..."
;)
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial