Teatro de mim
É uma coisa já velha. Este gosto pelo jogo, pelo faz de conta, pelo desdobrar da personalidade...
Quando menina, de olhar aceso, subia, pé ante pé, até ao sótão da grande casa. Aí, esquecida dos outros, ganhava máscaras que compunha fervorosamente com saias de anquinhas, vestidos de veludo e grandes decotes, xailes puídos e misteriosos, chapéus de flores e plumas, sapatos de tacão e fivelas exuberantes. Depois, em cima de um estrado, examinava-me, mostrava-me, falava e gesticulava como se não fosse eu. Era a senhora serena e elegante que bebericava chás pela chávena de cavalinho que para lá tinha sido abandonada; era a moça do campo, cheia de saias e carregos de roupas para lavar ou de quartas à cabeça e que calcorreava o pó esquecido daquele lugar numa alucinante faina quotidiana. Ás vezes, aparecia também um cavalheiro ou dois, de calças às riscas e chapéu de côco ou simplesmente de palhinhas! Sempre uma animação. Era um corre- corre de gente. E eu sempre ali, sendo eles e sendo eu, morta de gozo na plena sedução do jogo!
Sem saber, nascia em mim um profundo gosto pelo teatro!
Etiquetas: Memórias
2 Comentários:
Teatro de todos nós
Também fui ao sotão da velha casa, lá chorei todas as lágrimas que tinha no peito. Nesse sotão encontrei o berço que havia de ser da minha filha, pois tinha sido o meu.
Filipe Fino
E parece eu que te estou a ouvir falando dos teus desejos e aspirações para o teu futuro.
Lembras-te? Cinco da manhã no autocarro (camioneta, como nós dizíamos), a caminho da faculdade!
Belos tempo!
O que nós ríamos naquela viagem!
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