Maltês
Num ano de grande fome,
minha família acabou-se.
(...)
Minha mulher foi para a monda.
lá para o Alto Alentejo.
E a minha filha abalou
com uma mulher que ri
e anda de feira em feira
armando aquela barraca
onde se bebe e se ama.
E numa manhã de Inverno,
não pude mais e parti
- pelas estradas do acaso
com a manta de maltês!...
Manuel da Fonseca
Etiquetas: Outras Vozes
4 Comentários:
Belo,mas,arrepiantemente actual.É o lado escuro do País do "Senhor Engenheiro".
Lindo! E trouxe-me à memória o meu amado filho, quando, por uma "certa professora", foi incumbido de dar voz a dois poemas de Manuel da Fonseca...revi-o vezes sem conta na página da Escola! É sempre bom "passar" por onde tu andas...
maria ana
Ainda bem que por aqui passaram e ainda bem que gostaram. Com a palavra de Manuel da Fonseca é sempre fácil fazer uma boa página. Obrigada pela atenção que me votam.
F. Beja
Também gosto muito do nosso Manuel da Fonseca,mas a minha janela virada para o mar, lembra-me outro:
VAGABUNDO DO MAR - M.Fonseca
Sou barco de vela e remo
sou vagabundo do mar.
Não tenho escala marcada
nem hora para chegar:
é tudo conforme o vento,
tudo conforme a maré...
Muitas vezes acontece
largar o rumo tomado
da praia para onde ia...
Foi o vento que virou?
foi o mar que enraiveceu
e não há porto de abrigo?
ou foi a minha vontade
de vagabundo do mar?
Sei lá.
Fosse o que fosse
não tenho rota marcada
ando ao sabor da maré.
É, por isso, meus amigos,
que a tempestade da Vida
me apanhou no alto mar.
E agora,
queira ou não queira,
cara alegre e braço forte:
estou no meu posto a lutar!
Se for ao fundo acabou-se.
Estas coisas acontecem
aos vagabundos do mar.
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