No novo ano, o Inferno não existirá!
Se o houver, é apenas e só esse que já está connosco.
É o Inferno que habitamos todos os dias, que nós urdimos ao estarmos juntos no nosso egoísmo, no nosso orgulho, na nossa imensa vaidade, na nossa profunda mentira.
Há, porém, duas formas de o não sofrermos.
A primeira é fácil: aceitar este Inferno e fazer parte dele a ponto de já não o vermos.
A segunda é arriscada e exige uma atenção e uma aprendizagem contínuas: tentar e saber reconhecer, no meio do Inferno, quem e o que não é Inferno, e fazê-lo, então convictamente, viver e dar-lhe lugar.
in As Cidades Invisíveis, Italo Calvino (texto com adaptações)
Etiquetas: Outras Palavras