quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Medo

O medo vai ter tudo pernas ambulâncias e o luxo blindado de alguns automóveis.
Vai ter olhos onde ninguém o veja mãozinhas cautelosas enredos quase inocentes ouvidos não só nas paredes mas também no chão no tecto no murmúrio dos esgotos e talvez até (cautela!)ouvidos nos teus ouvidos. O medo vai ter tudo fantasmas na ópera sessões contínuas de espiritismo milagres cortejos frases corajosas meninas exemplares seguras casas de penhor maliciosas casas de passe conferências várias congressos muitos óptimos empregos poemas originais e poemas como este projectos altamente porcos heróis (o medo vai ter heróis!) costureiras reais e irreais operários(assim assim) escriturários (muitos) intelectuais (o que se sabe) a tua voz talvez talvez a minha com a certeza a deles... Vai ter capitais países suspeitos como toda a gente muitíssimos amigos beijos namorados esverdeados amantes silenciosos ardentes e angustiados. Ah, o medo vai ter tudo tudo (Penso no que o medo vai ter e tenho medo que é justamente o que o medo quer). O medo vai ter tudo quase tudo e cada um por seu caminho havemos todos de chegar quase todos a ratos!
Alexandre O'Neill (texto adaptado)

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domingo, 24 de janeiro de 2010

Retrato

Nesses dias de casos agoirentos
Nestes dias de céu cinzentos,
Nestes dias de risos parados
Sinto-me em sépia desbotada e baça fotografia.
Quebrada e sem moldura...

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domingo, 17 de janeiro de 2010

Esperança

Numa simbiose em tons de prata, céu e mar entrelaçam-se e estendem-se poderosamente diante de mim. Como uma tela! Acodem uma fresca viragem que afaga e revigora, um som surdo de ondulação mansa, o cheiro persistente da maresia... Cresce, dentro de mim, aquela imensidão escamada de luz solitária. Das alturas, parece-me escutar o sopro de Deus. Num lamento de dor, ainda que de esperança. Assim, quieta, me quedei, fitando o horizonte.

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Pensando no Haiti...

"Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos"
William Shakespeare

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sábado, 9 de janeiro de 2010

Amanheceres

Inefavelmente, Persiste uma desmanhã nesta manhã
Impalpável semi-oculta e impressentida.
É um desaroma na espuma do café;
Um desazul no céu entrevisto por entre nuvens;
Uma desalegria no verde da erva que cresce.
Eis que, nos meus olhos, se abrem gestos equivocados,
Incompletos, imprecisos, invisíveis…
E, nos versos escritos pelas minhas mãos,
Nada há senão desolhares vazios, vesgos, vagos, míopes.

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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Janeiro

É Janeiro, começo o ano.
Nada de novo: o mesmo tédio, igual vertigem; algum cansaço... E a incómoda sensação de haver Perdido todos os sonhos e todas as graças Em algum ponto esquecido do caminho. Em algum ponto remoto dentro de mim!

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sábado, 2 de janeiro de 2010

Votos

No novo ano, o Inferno não existirá!
Se o houver, é apenas e só esse que já está connosco.
É o Inferno que habitamos todos os dias, que nós urdimos ao estarmos juntos no nosso egoísmo, no nosso orgulho, na nossa imensa vaidade, na nossa profunda mentira.
Há, porém, duas formas de o não sofrermos.
A primeira é fácil: aceitar este Inferno e fazer parte dele a ponto de já não o vermos.
A segunda é arriscada e exige uma atenção e uma aprendizagem contínuas: tentar e saber reconhecer, no meio do Inferno, quem e o que não é Inferno, e fazê-lo, então convictamente, viver e dar-lhe lugar.
in As Cidades Invisíveis, Italo Calvino (texto com adaptações)

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