sábado, 30 de outubro de 2010

Renúncia

Nestes dias de chuva fechada
Aqui, no casúlo deste lar antigo
Cinjo-me de silêncio, de castigo.
Então, como uma estampa de mim
Mergulho na bruma perfumada
Do meu abismo interior sem fim.
Recuso-me à voz clamada.
Dispenso as palavras, o grito.
Enclausuro-me no desejo de ser
Intensamente sem me dar a conhecer.
Só à poesia, só à música permito, muda,
Decifrar-me enquanto a vida se me desnuda...

Etiquetas:

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Ainda

Vem até mim, como um regalo,
Uma paz efémera e azul
Na tarde de cinzas
Morrendo em tons afogueados
Do crepúsculo destes dias ainda de Verão.

Etiquetas:

domingo, 10 de outubro de 2010

Outonos

Lá fora, troveja em luzes trémulas
E, porque a chuva escorre, Dissolvendo a paisagem na janela Invento uma outra, navegando cores
Perpetuando movimentos vãos.
Afixo a imagem no espaço suspenso Entre o gotejar e a vidraça. Nada de mágico, nada com graça
Nada de insólito fantasio.
Acentuo apenas os contornos
Da minha mente errante de outras eras Como o vento rodopiando nos arvoredos E tão real quanto o meu rosto já antigo,
Antes de menina e de seus medos.

Etiquetas:

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Cativeiro

Quando é que o cativeiro
Acabará em mim,
E, próprio dianteiro,
Avançarei enfim?
Quando é que me desato
Dos laços que me dei?
Quando serei um facto?
Quando é que me serei?
Quando, ao virar da esquina
De qualquer dia meu,
Me acharei alma digna
Da alma que Deus me deu?
Quando é que será quando?
Não sei. E até então
Viverei perguntando:
Perguntarei em vão.
Fernando Pessoa

Etiquetas:

BlogArchive Blog Feed Cabeçalho HTML SingleImage LinkList Lista Logotipo BlogProfile Navbar VideoBar NewsBar