sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Contra as Bruxas

"Pai nosso João Canteiro
Bem me disse São Mateu
Que eu andasse onde quisesse
Que medo não tivesse
Nem de sombra, nem de lomba
Nem daquela mais pesada
Que tem as palmas das mãos furadas
E as unhas entravadas.
Amém"

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terça-feira, 28 de outubro de 2008

Sem Rumo

Sem meias palavras, sou folha de vento,
mergulho no espaço exígüo
entre as águas de cinza
e o sol da tarde que se esvai.
Sem ponte ou porta,
veda-me a asfixia.
Não me foi dado saber
nadar em águas rasas.
Afogo-me em mim, infinitamente.

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domingo, 26 de outubro de 2008

Agora

Agora,
não sei bem como
dei de amanhecer com as mãos repletas
de espinhos floridos;
os olhos ardidos de auroras perdidas
e os lábios vazios de palavras vazias ...

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sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Injustiça

(...) Não foi para morrer que nós nascemos, não foi só para a morte que dos tempos chega até nós esse murmúrio cavo, inconsolado, uivante, estertorado, desde que anfíbios viemos a uma praia e quadrúmanos nos erguemos. Não. Não foi para morrermos que falámos, que descobrimos a ternura e o fogo, e a pintura, a escrita, a doce música. Não foi para morrer que nós sonhámos ser imortais, ter alma, reviver, ou que sonhámos deuses que por nós fossem mais imortais que sonharíamos. Não foi. Jorge de Sena

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Cantilena

Cortaram as asas
ao rouxinol.
Rouxinol sem asas
não pode voar.
Quebraram-te o bico,
Rouxinol!
Rouxinol sem bico
não pode cantar.
Que ao menos a Noite
ninguém, rouxinol!,
ta queira roubar.
Rouxinol sem Noite
não pode viver.
Sebastião da Gama

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terça-feira, 21 de outubro de 2008

Caminhos

Momentos difíceis são passagens estreitas, caminhos cheios de obstáculos, armadilhas que espreitam, presentes envenenados que recebemos....
A vida é sempre um risco, um caminho a seguir, uma determinação a tomar. Devemos parar para pensar, mas não podemos deixar que o tempo passe sem termos tomado a decisão de que vale a pena intentar na subida de um caminho já trilhado, onde, lá na frente, ainda persistem sonhos à nossa espera.

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sábado, 18 de outubro de 2008

Desassossegos

"Nuvens... Existo sem que o saiba e morrerei sem que o queira. Sou o intervalo entre o que sou e o que não sou, entre o que sonho e o que a vida fez de mim, a média abstracta e carnal entre coisas que não são nada, sendo eu nada também. Nuvens. Que desassossego se sinto, que desconforto se penso, que inutilidade se quero!" Bernardo Soares, O LIVRO DO DESASSOSSEGO

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quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Nós

'Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta."
Guerra Junqueiro, PÁTRIA, 1896.

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quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Venenos

"Quando te sentires envenenado não lances esse veneno em quem poderá te servir de socorro."
Walter Grando

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sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Mãe

Noutro tempo, quando eu era pequena, a minha mãe estendia roupa como se fizesse magia, enquanto cantava e sorria... Eu ficava a ver a roupa a esvoaçar nas suas cores e formas díspares. Um fio imenso que atravessava a paisagem. Ficava a ouvir as modas que ela persistia em cantar e à espera dos seus sorrisos cúmplices. A minha mãe era, então, como uma nuvem branca e robusta que me enchia de tranquilidade, de certezas e de conforto. Hoje, de olhos fechados, mas abertos, ainda a vejo e sinto-me renovada, como se pudesse ficar ali para sempre...

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quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Sal da Língua

Escuta, escuta: tenho ainda uma coisa a dizer. Não é importante, eu sei, não vai salvar o mundo, não mudará a vida de ninguém - mas quem é hoje capaz de salvar o mundo ou apenas mudar o sentido da vida de alguém? Escuta-me, não te demoro. É coisa pouca, como a chuvinha que vem vindo devagar. São três, quatro palavras, pouco mais. Palavras que te quero confiar, para que não se extinga o seu lume, o seu lume breve. Palavras que muito amei, que talvez ame ainda. Elas são a casa, o sal da língua. Eugénio de Andrade

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