domingo, 29 de novembro de 2009

Auroras

Vaidosamente e expectante,
visto-me de azul para combinar com o dia que,
embora frio, tinge-me de múltiplas auroras.
Tomo-as nas minhas mãos
e ato-as, desfolho-as, percorro-as...
Vagamente nos meus ouvidos,
ecoam sons, vazios das cores, de outroras.

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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Eu

O que me persiste é toda a imensidão do nada
Quando em mim compreendo o mundo inteiro:
O que passou e se esqueceu e o que esquecido foi
Sem ter passado no meio deste nada ;
Deste resto de mim - eu! Nem perdida
Nem atónita, nem cansada , nem triste, nem alegre...
Poderia embriagar-me de tanta palidez de mim.
Opto antes pelo silêncio cúmplice da escrita
E deixo que, em mim, mergulhe a noite!

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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

No teu olhar

Escuta:
não são os teus olhos
ou os traços do teu rosto
que me encantam!
Antes sim a luz que
os ilumina quando me olhas
atenuando as rugas do meu rosto
e devolvendo-me a doçura
que eu tinha e se perdeu
no avesso de todos os espelhos.

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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Abismo

Na surdez do seu desatino
Está de pé sobre o abismo, suspensa.
Queda-se sobre um azul tão grande,
tão profundo, quase a afundar-se.
Olha-se com olhos de estranhos e vê-se a si mesma
Olha- se com os seus olhos e vê-se estranha.
Divide-se e multiplica-se nesse caleidoscópio
Feito ela e de si em si reinventa o desabrigo.
No fundo mais fundo
Mergulha.

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terça-feira, 3 de novembro de 2009

Quase

Um pouco mais de sol – eu era brasa,
Um pouco mais de azul – eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém… Assombro ou paz? Em vão… Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho – ó dor! – quase vivido…
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim – quase a expansão…
Mas na minh’alma tudo se derrama…
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo … e tudo errou…
— Ai a dor de ser — quase, dor sem fim…
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou…
Momentos de alma que, desbaratei…
Templos aonde nunca pus um altar…
Rios que perdi sem os levar ao mar…
Ânsias que foram mas que não fixei…
Se me vagueio, encontro só indícios…
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios…
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí…
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi…
Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…
Mário de Sá Carneiro

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