sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Passagem

É este o último anoitecer do ano
E aí está ela sem saber se conta estrelas
Ou se recolhe antes os cacos de vidros partidos.
Um ou outro provavelmente, mais uma vez, feri-la-á.
Por isso, deixa-os onde estão.
Talvez mais tarde, saia em busca de rosas brancas
Talvez, com sorte, encontre algures um nítido girassol
Talvez espreite as luzes da cidade deslumbrantes
Talvez faça de um rio o seu vestido de bailar
Ao luar, na chuvada deste reveillon...
Talvez apenas se sente na penumbra da varanda
Sorvendo pequenos goles de champanhe e solidão
À luz dos fogos de artifícios longínquos
Antes que ouça arrebatada a "Pasión" do Rodrigo
Talvez, enfim, ela adormeça para acordar pouco depois
E, assim preparada, receba o Novo Ano!

Etiquetas:

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Porcela

Nesta madrugada deste meu dia
É absoluto o silêncio pesado
Inquieta debruço-me na varanda
Como se sobre o mar ou o deserto me debruçasse
Nada vislumbro senão o vazio.
O céu azul despe-se em cinza
Antecipando a tempestade
(que em mim há muito se fez)
Se porventura eu chorasse
Se te chamasse tu ainda me ouvirias?

Etiquetas:

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Ausência

Tantos são os gestos, tantas as palavras Para explicar o convívio de juntos e separados Ao mesmo tempo em dor ou com dor. Não há tempo e espaço que me separem Do aço das nossas vidas de sinas feridas. De repente, num crescendo, apenas o vazio E um silêncio que mostra o tudo a acontecer No breve sussurro do teu dito agora Quando a gente já nada consegue dizer... Sigo, apenas, e sei que tropeço no coração.

Etiquetas:

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Salto

Penosamente a passo e passo
Piso as pedras em falsa harmonia.
Há um não sei quê de armadilha,
Uma hesitação de pernas entre
A queda e
O salto.

Etiquetas:

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Era

Era outra era de um tempo
E eu era-me tempo vasto em querer
Raro em ferir, múltiplo em sentir.
Tempo de não me perder
No rodopio de um falso sorrir.
Era um tempo claro de flores
De guizos presos às grinaldas,
Enfeitando as portas das casas iluminadas.
Ninhos certos de cores e amores.
Havia o canto dos pássaros e das crianças.
Jamais se me ausentavam esperanças,
Feitas folhas de hera e ânsia.
Parecia Primavera e era Inverno.
Era Natal e eu, néscia e sem tino,
Já abandonara a minha infância.

Etiquetas:

BlogArchive Blog Feed Cabeçalho HTML SingleImage LinkList Lista Logotipo BlogProfile Navbar VideoBar NewsBar